A tragédia da boate Kiss de Santa Maria, RS
Parte I
A tragédia da
boate Kiss de Santa Maria, RS, me trouxe lembranças terríveis do incêndio do
Gran Circus Norte-Americano, em Niterói, na década de sessenta do século passado, já que o pátio
e um dos galpões dos Armazéns Gerais São José - Filial Niterói, empresa de
propriedade de meu pai e tios, foram colocados à disposição das autoridades da
época para receber os caixões, pois o Velório do Cemitério do Maruí não comportava
a demanda de tamanho número de corpos.
Nelson Miguel do Nascimento, um de nossos mais jovens e
mais fiéis funcionários, jamais esqueceu o drama das famílias e teve, durante
anos, pesadelos com o velório coletivo realizado em nossas instalações e eu,
por via de consequência, também.
Em O GLOBO, na época - http://oglobo.globo.com - leu-se:
“Além do tratamento de queimados, o sepultamento de
vítimas mobilizou dezenas de voluntários. Na semana seguinte ao incêndio, o
estádio Caio Martins, em Icaraí, transformou-se numa grande carpintaria onde
eram fabricados caixões. Profissionais de diferentes pontos do estado seguiram
para Niterói, onde trabalharam como voluntários durante semanas. O Cemitério do
Maruí, no Barreto, precisou ser ampliado, enquanto em São Gonçalo foi criado o
Cemitério de São Miguel, para enterrar as vítimas do incêndio.
— Durante dias, a região próxima ao local do incêndio
tinha um forte cheiro de carne queimada. Os enterros eram um seguido do outro —
lembra Waldenir de Bragança, que mais tarde se tornou prefeito da cidade”.
Quem não viveu o momento pode, através dessas palavras da
reportagem, imaginar o que foi a tragédia do Gran Circus Norte-Americano em
Niterói.
Pode, também, imaginar que foi mais fácil para as
autoridades colocar a culpa em um trapezista recém despedido e que em
represália tocou fogo no circo, do que assumir a responsabilidade por terem
permitido tal arapuca funcionar em condições precárias, o que levou à morte de
mais de 500 pessoas, sendo que 70% delas eram crianças.
Nada foi apurado realmente, como deveria ser, e só as
famílias das vítimas sofrem até hoje com os resultados daquele bárbaro
incêndio.
Agora a história se repete.
Contudo os tempos são outros; naquela época o mundo não
estava coligado pela Internet, as notícias custavam a chegar aos quatros cantos
e não havia tanta tecnologia, por esses mesmos quatro cantos, para analisar as
causas do incêndio, como existe hoje.
Entretanto eu creio que a principal causa, tanto naquele
passado já longínquo, quanto hoje, seja a mesma, isto é, a corrupção nos órgãos
públicos que permitem o funcionamento desses locais de espetáculos.
Não existe outra causa maior.
Os empresários gananciosos e inescrupulosos – e só por
isso já deveriam ir para a cadeia - dão propinas às autoridades para obter as
licenças, os alvarás de funcionamento -- não só dos locais, como também dos
eventos que neles serão realizados.
UMA VERGONHA.
Agora vamos ver o que será feito, apesar de que eu,
sinceramente, não tenho muita esperança de ver os verdadeiros culpados – a
começar pelo prefeito de Santa Maria - responsabilizados por essas, até agora,
233 mortes de jovens compatriotas.
Entretanto, confio na Justiça Divina e por isso sei que,
como Nelson Miguel do Nascimento e eu mesmo, os verdadeiros responsáveis também
jamais poderão se esquecer dos fatos e viverão, eles sim, com sua culpa, por
toda a Eternidade.
Meus sentimentos às família enlutadas.
Jorge Eduardo
servus Dei.